segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Eduardo Galeano

Um poema do próximo livro de Eduardo Galeano “Los hijos de los días”:

Umbral
Y los días se echaron a caminar. 
Y ellos, los días, nos hicieron. 
Y así fuimos nacidos nosotros,
los hijos de los días, 
los averiguadores, 
los buscadores de la vida. 
                                                             (El Génesis, según los mayas)

domingo, 27 de novembro de 2011

Memória


Em um dia ensolarado, lá por volta de 1967, véspera de  Natal, mamãe pediu para que eu fosse na venda. A venda era longe, como tudo no sítio, mas a lonjura era a segunda parte mais divertida. Sim, a segunda. É sempre bom ver passarinho e moça bonita, o caminho da venda era assim. A coisa mais divertida era o campinho. Era de areia do sítio, não vou nem tentar explicar o que é areia do sítio, vocês não vão entender se não são do sítio e, se são, não preciso explicar. Voltemos ao campinho. Era de areia do sítio, tinha trave de madeira e os meus mais nobres amigos de toda a vida, sim, amigo de campinho é coisa séria. Aconteceu que na volta da venda meus nobres amigos me chamaram para jogar, proposta irrecusável, convenhamos. Joguei uns 50 minutos, ou mais. O tempo é um negócio desnecessário no campinho, aliás, no campinho não tem primeiro e segundo tempo, o tempo é um só e olha que é bastante, pra toda vida eu diria.  As mães nunca entenderão isso. Bom, como vocês devem imaginar, quando eu voltei tinha escurecido e mamãe esperava com a vara.  Apanhei. Meu Natal foi inesquecível, 12 a 7 para os sem camisa. Eu estava nesse, é claro. Quando temos boas memórias estamos bem vivos.  Ser humano é feito de memórias, sem elas não temos razão de ser. 

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Novo gosto, coisas diferentes

 Pode ser que seja algo momentâneo, mas o fato é que descobri como apontar lápis com estilete. Parece algo estranho, mas é muito interessante. Tem um certo romantismo neste ato singelo e, além disso, fica um negócio diferente. Não sei se é algo passageiro, mas estou me divertindo. Agora, além de gostar de lápis, gosto de apontar lápis. 

"Se esteves sempre aí, só agora descobri seu encantamento."

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Rompante de cólera

Disseram-me que, às vezes, eu tenho "rompantes de cólera".

Esta expressão me parece tão simpática e romântica que tive mais como um elogio do que uma crítica. 
Conheço muitos descontrolados, mas pessoas que têm "rompantes de cólera" só conheço personagens da literatura.


Devo dizer que tenho uma certa originalidade, duvido que você conheça alguém que tenha rompantes de cólera. 

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Mulher


Não te amo porque és assim, eu amo por estares em mim.
Não sofro por sua beleza, alimento-a.
Não busco suas fraquezas, busco sua força.
És minha delicadeza e minha vontade mais profunda, sábia.

domingo, 23 de outubro de 2011

Paulo Lemisnki

Nunca cometo o mesmo erro
duas vezes
já cometo duas três
quatro cinco seis
até esse erro aprender

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Encontro com a felicidade

- Acabo de encontrar a felicidade. Você viu?
- Não.
- És muito lento. Ela já foi. Precisas ser mais atento.
- Nunca consigo vê-la!
- Logo ela passará novamente, não desista.




-

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Rosa Luxemburg

Ontem, estava relendo uma pequena biografia da Rosa. Li novamente essa belíssima carta. É uma carta forte, sensível, poética, digna de Rosa. Para mim, ela representanta o que há de melhor, no meu sexo, em toda a história, sem nenhum demérito às lutadoras nossas de cada dia.

Rosa Luxemburg: Uma carta da prisão a Sonia Liebknecht
Breslau, antes de 24 de dezembro de 1917.

Sonitchka, meu passarinho, fiquei tão contente com a sua carta! Queria responder imediatamente mas tinha muito o que fazer, e precisava de grande concentração, por isso não pude dar-me a esse luxo. Então preferi esperar uma oportunidade, pois é muito melhor poder tagarelar com você à vontade. 
Pensei em você todos os dias ao ler as notícias da Rússia, e preocupei-me imaginando a sua enorme aflição a cada telegrama estúpido. O que de lá chega neste momento são, na maioria, informações de tártaros, e isso é duplamente verdadeiro no que se refere ao sul. O que importa às agências telegráficas (aqui e lá) é exagerar o mais possível o caos, e elas aumentam de maneira tendenciosa todo boato não confirmado. Até as coisas se esclarecerem, não tem sentido, não há razão para inquietar-se à toa, por antecipação. De modo geral, parece que as coisas se passam sem nenhum derramamento de sangue; em todo caso, os boatos sobre “combates” não foram confirmados. Trata-se simplesmente de uma áspera luta partidária a qual parece sempre, pela explicação dos correspondentes dos jornais burgueses, uma loucura desenfreada e um inferno. No que se refere aos pogroms contra judeus, todos os boatos nesse sentido são completamente falsos. Na Rússia, a época dos pogroms acabou de uma vez por todas. O poder dos trabalhadores e do socialismo é muito forte para isso. A revolução purificou de tal maneira a atmosfera dos miasmas e do ar sufocante da reação que Kichinev, é para sempre passé. Tenho menos dificuldade em imaginar pogroms contra judeus na Alemanha... Aí reina sem dúvida a atmosfera de baixeza, covardia, reação e estupidez propícia para isso. Nesse ponto, você pode ficar totalmente tranqüila no que se refere ao sul da Rússia. Como as coisas desembocaram ali num conflito muito agudo entre o governo de São Petersburgo e a Rada, logo elas devem se resolver e esclarecer, o que permitirá ter um panorama da situação. De todos os pontos de vista não faz nenhum sentido, não há nenhum motivo para que você, na incerteza, se aflija, cheia de medo e inquietação. Tenha coragem, minha menina, mantenha a cabeça erguida, fique firme e tranqüila. Tudo vai melhorar, é só não ficar sempre à espera do pior!...

Eu tinha uma grande esperança de vê-la por aqui em breve, em janeiro. Agora soube que Mathilde Wurm      quer vir em janeiro. Seria difícil para mim desistir da sua visita em janeiro, mas como é natural não posso decidir. Se você disser que só pode vir em janeiro, então talvez fique como estava; talvez Mathilde Wurn possa vir em fevereiro? Em todo caso, gostaria de saber logo quando a verei.

Faz agora um ano que Karl Liebknecht está na prisão em Luckau, neste mês pensei nisso com freqüência; faz exatamente um ano você esteve comigo em Wronke e me ofereceu a linda árvore de Natal... Este ano pedi que me comprassem uma, mas a que me trouxeram era muito reles, com galhos faltando – não tem comparação com a do ano passado. Não sei como vou pôr as oito velas que comprei. É o meu terceiro Natal no xadrez, mas não considere isso tragicamente. Estou calma e alegre como sempre.
Ontem fiquei muito tempo acordada – agora não consigo dormir antes da uma, mas preciso ir para cama às 10 porque a luz é apagada –, e então no escuro sonho com diversas coisas. Ontem então pensava: como é estranho eu viver permanentemente numa alegre embriaguês, sem nenhuma razão particular. Assim, por exemplo, estou aqui deitada nesta cela escura, num colchão duro como pedra, enquanto à minha volta, no edifício, reina a habitual paz de cemitério; parece que está no túmulo. Através da janela desenha-se no teto o reflexo do bico de gás ardendo a noite inteira em frente da prisão. De tempo em tempos ouve-se o ruído surdo de um trem que passa ao longe, ou então, bem perto, debaixo das minhas janelas, o pigarro da sentinela que, com suas botas pesadas, dá alguns passos lentos para desentorpecer as pernas. A areia estala tão desesperadamente sob esses passos que todo vazio e a falta de perspectivas da existência ressoam na noite úmida e sombria. E aqui estou deitada, quieta, sozinha, enrolada nos véus negros das trevas, do tédio, da falta de liberdade, do inverno – e, apesar disso, meu coração bate com uma alegria interior desconhecida, incompreensível, como se debaixo de um sol radiante estivesse atravessando um prado em flor. No escuro, sorrio à vida, como seu eu conhecesse algum segredo mágico que pune todo mal e as tristes mentiras, transformando-as em luz intensa e felicidade. E, ao mesmo tempo, procuro uma razão para essa alegria, não encontro nada, e tenho que sorrir novamente – de mim mesma. Creio que o segredo não é outro senão a própria vida; a profunda escuridão noturna é bela e suave como veludo, basta saber olhar. No estalar da areia úmida sob os passos lentos e pesados da sentinela canta também uma bela, uma pequena canção da vida – basta apenas saber ouvir. Nesses momentos penso em você. Gostaria tanto de passar-lhe essa chave mágica para que você percebesse sempre, em todas as situações, o que há de belo e alegre na vida, para que também você viva na embriaguês, como que caminhando por um prado cheio de cores. Longe de mim a idéia de contentá-la com ascetismo, com alegrias imaginárias. Concedo-lhe todas as verdadeiras alegrias dos sentidos. Só gostaria de dar-lhe também a minha inesgotável serenidade interior, para não me preocupar mais com você, para que andasse na vida com um manto de estrelas protegendo-a de tudo que é mesquinho, banal e angustiante.
  
Você colheu no parque de Steglitz um lindo buquê de bagos negros e rosa-violeta. Os bagos negros podem ser de sabugueiro – seus bagos pendem em cachos pesados e densos entre grandes feixes de folhas pinuladas, você certamente conhece – ou, mais provavelmente, de alfena: panícula de bagos, elegantes, graciosas, eretas, e folhinhas verdes, compridas e finas. Os bagos rosa-violeta, escondidos sob folhas bem pequeninas, podem ser de nespereira anã; na realidade, eles são vermelhos, mas neste período da estação, já demasiado maduros e começando a apodrecer, têm freqüentemente uma aparência violeta avermelhada; as folhinhas parecem-se com as do mirto, pequenas, afiladas na ponta, o lado de cima verde escuro, semelhante ao couro, o de baixo rugoso. 

Soniucha, você conhece o poema de Platen, “Verhängnisvolle Gabel” [Garfo fatal]? Você poderia enviá-lo ou trazê-lo? Karl mencionou uma vez que tinha lido em casa. Os poemas de George são bonitos; agora sei de onde vem o verso “e sob o murmúrio do trigo erubescente”. [Umd unterm Rauschen rötlichen Getreides...] que você sempre recitava quando íamos passear no campo. Você poderia copiar para mim, quando for possível, o novo “Amadis”? Gosto tanto desse poema – naturalmente graças ao lied de Hugo Wolf –, mas não o tenho aqui. Você continua lendo a Lenda de Lessing? Retomei a História do materialismo, de Lange, que sempre me estimula e restaura. Gostaria tanto que você a lesse um dia desses. 

Ah! Sonitchka, passei aqui por uma dor violenta. No pátio onde passeio chegam muitas vezes carroças do exército, abarrotadas de sacos ou túnicas velhas e camisas de soldados, muitas vezes manchadas de sangue...; são descarregadas, distribuídas pelas celas, consertadas, novamente postas nas carroças para serem entregues ao exército. Outro dia, chegou uma dessas carroças, puxada não por cavalos, mas por búfalos. Era a primeira vez que via esses animais de perto. São mais fortes e maiores que os nossos bois, têm a cabeça chata, chifres curvos e baixos, e uma cabeça totalmente negra, de grandes olhos meigos, que lembra a dos nossos carneiros. Vêm da Romênia, são um troféu de guerra... os soldados que conduziam a carroça diziam ser muito difícil capturar esses animais selvagens, e ainda mais difícil utilizá-los para carregar fardos, pois estavam acostumados à liberdade. Foram terrivelmente maltratados até compreenderem que perderam a guerra e que também para eles vale a expressão “vae victis” [ai dos vencidos]... Só em Breslau deve haver uma centena desses animais; acostumados que estavam às ricas pastagens da Romênia recebem ali uma ração parca, miserável. Trabalham sem descanso puxando todo tipo de carga e com isso não demoram a morrer. Há alguns dias então uma dessas carroças cheia de sacos entrou no pátio. A carga era tão alta que os búfalos não conseguiam transpor a soleira do portão. O soldado que os acompanhava, um tipo brutal, pôs-se a bater-lhes de tal maneira com o grosso cabo do chicote que a vigia da prisão, indignada, perguntou-lhe se não tinha pena dos animais. “Ninguém tem pena de nós, homens”, respondeu com um sorriso mau e pôs-se a bater ainda com mais força... Os animais deram finalmente um puxão e conseguiram transpor o obstáculo, mas um deles sangrava... Sonitchka, a pele do búfalo é proverbialmente espessa e resistente, e ela foi dilacerada. Durante o descarregamento, os animais permaneciam imóveis, esgotados, e um deles, o que sangrava, olhava em frente e tinha, na cara escura e nos olhos negros e meigos, uma expressão de uma criança em prantos. Era exatamente a expressão de uma criança que foi severamente punida e que não sabe por qual motivo, por que, não sabe como escapar ao sofrimento e a essa força brutal... eu estava diante dele, o animal me olhava, as lágrimas saltaram-me dos olhos – eram as suas lágrimas. Ninguém pode sofrer mais por um irmão querido do que eu sofri na minha impotência com essa dor silenciosa. Como estavam longe, perdidas, inacessíveis, as pastagens da Romênia, essas pastagens verdes suculentas e livres! Como tudo lá era diferente, o brilho do Sol, o sopro do vento, como eram diferentes os belos cantos dos pássaros ou o melodioso chamado do pastor. E aqui – esta cidade estrangeira, horrível, o estábulo sombrio, o feno mofado, repugnante, misturado com a palha apodrecida, os homens desconhecidos, assustadores, e – as pancadas, o sangue que corre da ferida aberta... Oh! meu pobre búfalo, meu pobre irmão querido, aqui estamos os dois tão impotentes e mudos, mas somos só um na dor, na impotência, na saudade. Entretanto os prisioneiros agitavam-se em volta do carro, descarregavam os pesados sacos e arrastavam-nos para dentro; já o soldado enfiara as mãos nos bolsos das calças e percorrendo o pátio com grandes passos, ria e assobiava baixinho uma canção da moda. Diante de mim a guerra desfilava em todo o seu esplendor.


Escreva logo.


Abraços, Sonitchka,
Sua R


Sonitchka, querida, fique calma e alegre apesar de tudo. Assim é a vida. É preciso tomá-la corajosamente, sem medo, sorrindo – apesar de tudo. Feliz Natal!

sábado, 1 de outubro de 2011

Adorei!!!!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Mário Quintana

Se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarinho.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Dá preguiça de guardar

Dá preguiça de guardar o tênis
Dá preguiça de guardar a roupa no armário
Dá preguiça de guardar o livro na estante
Dá preguiça de guardar o meu amor
Aí, fica tudo jogado e a gente usa o que devia estar guardado.


sábado, 10 de setembro de 2011

Febre

Saudade, um café
Dor
Preocupações
Reunião interminável
Contas
As flores
Cravos, rosas, flores do campo...
Perfume, beleza
Dores
Saudade
Carros, Barulho
Medos
Força...
30 gotas de Metamizol sódico
Fim.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

La Maison en Petis Cubes - Animação Japonesa - Para quem acha que eu não gosto


Síndrome da balinha de menta

Sempre tive dificuldades em entender o comportamento humano.  Desde muito cedo tive a preocupação em cuidar do outro, motivo simples, gosto de gente. Todavia, não consigo entender ninguém.
Imaginava eu, que na velhice isso iria melhorar, que eu iria entender as pessoas. Mas pelo visto nem Matusalém entendeu (eu tive que fazer uma consulta técnica  para saber quem foi o homem mais velho da Bíblia, deve ser por isso que eu não entendo as pessoas).
Domingo eu fui ao mercado com meus últimos trinta reais. Chovia, mas eu precisava comprar umas coisinhas.  Sou professora aposentada, cada dia que passa meu salário definha, não devo ser a única.  Gastei no mercado meus trinta reais por completo. Essa é uma proeza que só os meticulosos conseguem. Fui somando tudo e enquanto não deu trinta não parei. Não demorou muito.
Comprei “tudo” que eu precisava. Mas a velhice é coisa feia, a gente começa a esquecer as coisas. Tem lá suas compensações, nem lembro mais que cara tinha minha cunhada. Além do esquecimento, vamos tendo umas coisas no corpo, dói aqui, dói ali.  Eu por exemplo, sou forte, mas tenho uma secura na garganta que só Deus pra curar, parece que vou morrer disso. Talvez seja herança da minha profissão.
Para passar a secura tenho comigo balinhas de menta.  Neste fatídico domingo as balinhas acabaram. Eu esqueci de incluir nos últimos trintões.
Quando eu saía do mercado tive uma “crise da garganta seca”, coisa horrível de ver. Vocês podem achar engraçado, mas é coisa feia. Se um dia vocês envelhecerem, talvez me entendam. As crises são fortes e eu preciso de balinhas. Talvez o nome mais conveniente para minha doença fosse “síndrome da balinha de menta”.  Bom, não importa, como eu havia dito estava saindo do mercado quando tive a crise. Resolvi passar na revistaria e  pedir uma balinha de menta para a moça. Outro dia eu havia visto a cesta de balinhas na revistaria. Entrei e fui logo pedindo: podes me dar uma balinha de menta? Ela respondeu:  cinco centavos. Eu disse: não, quero uma de graça. Ela com cara de poucos amigos tornou a repetir: cinco centavos. Eu desconsertada, disse, obrigada. Uma moça que ouvia a conversa perguntou: o que a senhora quer? Queria uma balinha. Ela de súbito entregou alguns centavos à atendente, pegou as balinhas e me entregou. Eu, sem muito entender, disse que só queria uma. Ela num gesto com as mãos disse para eu ficar com todas e saiu.
A minha doadora de balinhas de menta deve ter imaginado que eu tinha uma doença mental  (não de menta)  e não na garganta, ou talvez ela tenha a “síndrome da balinha de menta”, dizem que tem doença de velho que dá em jovem. Sei lá, o fato é que tenho balinhas até o dia do pagamento. 

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A maior parte é minha

Eu não poderia dizer o quanto tem de você em mim, não que eu não saiba, mas porque eu odeio ficar com a menor parte.
Não pense que estas linhas são para você. Não são. São suas...


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Gregório de Mattos

É impressionante como ele consegue chegar aos nossos tempos.
Poema satírico do poeta Barroco Gregório de Mattos

Diz mais com o mesmo desenfado:


Sal, cal e alho
Caiam no teu maldito caralho. Amém.
O fogo de Sodoma e de Gomorra
Em cinza te reduzam essa porra. Amém.
Tudo em fogo arda,
Tu, e teus filhos, e o Capitão da Guarda

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Da ignorância ou O Teixeira


Outro dia fui a uma pizzaria com uma pessoa além de agradável, muito mais fina do que eu. Ele tem certa, digamos assim, “fineza de espírito”. Todos nós sabemos que ser fino não depende nem de dinheiro, nem de vontade, depende de algo maior.
O lugar onde nos encontrávamos tinha um certo requinte. Nada luxuoso mas apenas acolhedor, como meu acompanhante (é engraçado, as mulheres podem chamar os homens de acompanhante sem nenhum problema, ninguém vai achar que eu paguei alguma coisa pela companhia).

Eu estava achando tudo agradável, mas o cardápio era em italiano. Nada muito difícil, já que o italiano é também de origem latina e os brasileiros têm certa proximidade com o cardápio da Itália. Mas havia um problema: eu não conseguia achar o nhoque. E estava compenetrada. Alguns minutos atrás o garçom já havia passado por nossa mesa, mas estávamos ainda decidindo o que comer.
Eu compenetrada e de repente chega outro ‘garçon’. Não prestei atenção. O moço disse, sou o Teixeira... O restante eu nem ouvi muito bem, sabia que disse alguma coisa diferente, pensei eu, algo em italiano. Como eu não conseguia encontrar o nhoque,  rapidamente perguntei: tem nhoque? Ele respondeu: tem sim senhora e muito gostoso. 
Meu acompanhante colocou a mão na testa, abaixou a cabeça, com um certo ar de vergonha e me disse: esse não é o moço do nhoque.
O ser de ‘fineza de espírito’, com muita educação, disse ao Teixeira qualquer coisa como, se precisar te chamo.
Quando ele saiu meu acompanhante, meio vermelho e meio querendo rir me disse: ele, o Teixeira,  é o ‘sommellier’, uma pessoa especializada em vinho. Eu ri, não sabia o que era um sommellier. Desde então concluí: se um Teixeira aparecer na sua mesa, não pergunte do nhoque. Ele é um ignorante, só entende de vinho.
Meu acompanhante sim é que é interessante, entende de vinho, nhoque, e sabe quem é o Teixeira. Tenho que sair mais com ele.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Cinema

Quanto estive no Peru ganhei um filme de um amigo peruano que vive em Lima (Barranco). O presente foi em virtude de eu haver falado a ele que queria o filme peruano "La Teta Assustada".
O amigo insistiu em dizer que apesar de peruano, o filme - El secreto de sus ojos -  hispano-argentino, que ganhou o Oscar no lugar do filme peruano, era melhor.  Registro aqui que o filme peruano também é bom, diferente, cultural. Mas vamos ao outro.
Ontem assisti. De fato é muito bom.  Eu não entendo nada de cinema, mas como me ensinou um outro amigo entendido de cinema, a primeira coisa para começar entender de cinema é saber dizer: gostei ou não gostei.
Gostei muito do filme "El secreto de sus ojos", o melhor que assisti até agora em 2011. Para os jovens, médios e velhos advogados sérios, desculpem, esqueci que não existe advogado sério, vale a pena ver um pouco da "justiça" argentina. Para os demais vale por tudo.
No ano de 2009 quando o filme ganhou o Oscar ele concorreu com "Fita Branca". Como eu disse, não entendo nada de cinema, mas "Fita Branca" tem uma das melhores, mais fortes cenas que eu já vi no cinema.
Assistam os três, vale a pena.



domingo, 14 de agosto de 2011

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Mas há a vida - Clarice Lispector

Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.

sábado, 6 de agosto de 2011

A música é do Arnaldo Antunes

Essa música faz parte da trilha do filme Bicho de Sete Cabeças. O filme e a música são excelentes.




quinta-feira, 28 de julho de 2011

Para hoje e sempre

Essa frase combina com meu dia, às vezes tenho a impressão de que combina com minha vida:


" De todas as coisas seguras, a mais segura é a dúvida. " 
( Bertold Brecht ) 

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Linda

A beleza depende de quem vê, reza a lenda. Tenho dúvida sobre esta afirmação. A beleza depende da época que vivemos, depende dos padrões estabelecidos, depende dos mitos estabelecidos.
Tive uma amiga feia. Quando digo feia refiro-me àquela feiúra universal, àquela feiúra consenso. Sim, feio que não é consenso não é feio.
Voltemos à amiga. Ela era magérrima, com sardas, espinhas, um ar de Macabéia,  a personagem de Clarice Lispector. Coitada. Para completar, seu nome era Lindaura, apelido, Linda, o acaso apronta algumas.
Linda era muito simpática, tinha aquela coisa bonita do nome, também na forma de ser.  Vivia sorrindo, adorava a vida e parecia sempre feliz. 
Um dia nos disse que iria participar de um concurso de beleza. Estávamos em uma roda de amigos, nosso susto foi tão grande que não sabíamos o que fazer para persuadi-la da idéia. Cada qual disse uma coisa. O primeiro ressaltou a futilidade da questão, o outro a questão política do estabelecimento de um padrão social. Eu preferi calar, na pura idéia de ser poupada de tamanho constrangimento. Mas, Macabéia, digo, Linda, era mesmo uma sujeita diferente, pensou um pouco e mudou de idéia, convenceu-se da futilidade da ação.
Lindaura morreu ontem, casada, sem nenhum filho, aos oitenta anos, Linda.

sábado, 16 de julho de 2011

35 anos


Que venham os próximos trinta e cinco...
Somarei tudo e acrescentaria o triplo..
Amarei três vezes mais e serei cinco vezes mais tolerante...
Não tirarei nenhum segundo, porque "eu tenho o amor maior do mundo", a vida...
"Como é grande o meu amor por você".


quarta-feira, 13 de julho de 2011

Quase 35 anos e uma tremenda identificação com Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

Há sem dúvida quem ame o infinito, 
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
 
Há sem dúvida quem não queira nada
 
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
 
Porque eu amo infinitamente o finito,
 
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
 
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
 
Ou até se não puder ser...

Álvaro de Campos

Tenho total acordo com os quatro últimos versos. 

terça-feira, 12 de julho de 2011

Discurso de Deus a Eva - Millôr Fernandes


"... Eva, de repente, descobrindo uma bela cascata, resolveu tomar um banho de rio.  A criação inteira veio então espiar aquela coisa linda que ninguém conhecia.  E quando Eva saiu do banho, toda molhada, naquele mundo inaugural, naquela manhã primeval, estava realmente tão maravilhosa que os anjos, arcanjos e querubins, ao verem a primeira mulher nua sobre a Terra, não se contiveram, começaram a bater palmas e a gritar, entusiasmados: "O AUTOR! O AUTOR! O AUTOR!".

"P.S. - Este discurso do Todo-Poderoso está sendo divulgado pela primeira vez em todos os tempos, aqui neste livro.  Nunca foi publicado antes, nem mesmo pelo seu órgão oficial, A BÍBLIA."

"Minha cara,

eu te criei porque o mundo estava meio vazio, e o homem, solitário. O Paraíso era perfeito e, portanto, sem futuro. As árvores, ninguém para criticá-las; os jardins, ninguém para modificá-los; as cobras, ninguém para ouvi-las. Foi por isso que eu te fiz. Ele nem percebeu e custará os séculos para percebê-lo. É lento, o homenzinho. Mas, hás de compreender, foi a primeira criatura humana que fiz em toda a minha vida. Tive que usar argila, material precário, embora maleável. Já em ti usei a cartilagem de Adão, matéria mais difícil de trabalhar, mais teimosa, porém mais nobre. Caprichei em tuas cordas vocais, poderás falar mais, e mais suavemente. Teu corpo é mais bem acabado, mais liso, mais redondo, mais móvel, e nele coloquei alguns detalhes que, penso, vão fazer muito sucesso pelos tempos a fora. Olha Adão enquanto dorme; é teu. Ele pensara que és dele. Tu o dominarás sempre. Como escrava, como mãe, como mulher, concubina, vizinha, mulher do vizinho. Os deuses, meus descendentes; os profetas, meus public-relations, os legisladores, meus advogados; proibir-te-ão como luxúria, como adultério, como crime, e até como atentado ao pudor! Mas eles próprios não resistirão e chorarão como santos depois de pecarem contigo; como hereges, depois de, nos teus braços, negarem as próprias crenças; como traidores, depois de modificarem a Lei para servir-te. E tu, só de meneios, viverás.

Nasces sábia, na certeza de todos os teus recursos, enquanto o Homem, rude e primário, terá que se esforçar a vida inteira para adquirir um pouco de bens que depositará humildemente no teu leito. Vai! Quando perguntei a ele se queria uma Mulher, e lhe expliquei que era um prazer acima de todos os outros, ele perguntou se era um banho de rio ainda melhor. Eu ri. O homem e um simplório. Ou um cínico. Ainda não o entendi bem, eu que o fiz, imagina agora os seus semelhantes.

Olha, ele acorda. Vai. Dá-me um beijo e vai. Hmmmm, eu não pensava que fosse tão bom. Hmmmm, ótimol Vai, vai! Não é a mim que você deve tentar, menina! Vai, ele acorda. Vem vindo para cá. Olha a cara de espanto que faz. Sorri! Ah, eu vou me divertir muito nestes próximos séculos!"

Texto extraído do livro
 "Esta é a verdadeira história do Paraíso", Livraria Francisco Alves Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. s/nº.

domingo, 10 de julho de 2011

Machado de Assis outra vez

" Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes."

São tantas revisões no texto que às vezes cansa, dói. Hoje é um dia que estou com o coração apertado pelo sofrimento alheio, queria ter um remédio para a dor da minha amiga. O tempo, o tempo... o sol, a lua, a juventude, a vida...



sexta-feira, 8 de julho de 2011

Dois poemas de José Paulo Paes (falarei sobre ele com tempo)

Hino ao sono

Sem a pequena morte 
de toda noite
como sobreviver à vida
de cada dia




DECLARAÇÃO DE BENS


meu deus
minha pátria
minha família

minha casa
meu clube
meu carro

minha mulher
minha escova de dentes

minha vida
meu câncer
meus vermes



quarta-feira, 6 de julho de 2011

Machado de Assis e a traça

A traça comeu uma parte de "Memórias Póstumas".  Agora vou colocar capa dura no livro. Os vermes do livro estão se movendo. Adorei! Estou relendo o livro.
"Ao verme que primeiro roeu as finas carnes do meu cadáver dedico como saudosas lembranças  estas MEMÓRIAS PÓSTUMAS" 

terça-feira, 5 de julho de 2011

Da fuga

Estou lendo um livro com  130 crônicas do Nelson Rodrigues, o que dá um total de 693 páginas.  Resolvi datar cada uma que leio. Odeio quando faço isso. A primeira datei em 14 de fevereiro; a última em 23 de maio. Atualmente está uma guerra dentro de mim. Minha mente é habitada por uma infinidade de personagens. Quero  fugir de algumas crônicas. Persuadir as personagens em desistir dessas datas, pular as crônicas que eu não gostar do título (título é tudo, como diria minha amiga Luci, a respeito dos dentes das pessoas) e chegar ao fim do livro. Ao que tudo indica é uma causa perdida. As personagens se reunirão e a votação está dada: centenas contra um. Odeio essa gente teimosa dentro de mim. 

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Simpático o vídeo, adorei

Quatro dicas sobre a felicidade


1. Nunca procure a felicidade, ela é terrível; quem a procura nunca
encontra. A felicidade é fruto do acaso.

2. Quando tiveres certeza de estar frente a frente com ela, aja com
naturalidade; ela fica assustada quando é percebida.

3. Caso você alcance o item 2, jamais conte para as pessoas à sua
volta; a verdade não combina com nossa sociedade atual.

4. Quando ela quiser ir, permita; a sua antítese é necessária para o gozo do retorno.

domingo, 26 de junho de 2011

Para quem gosta da vida e de Fernado Pessoa

Não importa se a estação do ano muda...
Se o século vira, se o milênio é outro.
Se a idade aumenta...
Conserva a vontade de viver,
Não se chega a parte alguma sem ela."

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Dia Cinza

Eu adoro quando o dia está cinza.
Quando o dia está cinza parece que o mundo vai chorar. Quando chove em dia cinza o mundo está chorando.
Tenho certeza, sou apaixonada pelo choro do mundo.
Choremos.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Guimarães Rosa

“O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem”

Guimarães Rosa

terça-feira, 14 de junho de 2011

Acréscimo

Acrescentei uma citação ao texto "amar", além disso o revisei. Eu sempre cometo atrocidades na primeira escrita, agora tá revisado e acrescido.

domingo, 12 de junho de 2011

Amar

Neste dia consagrado pelo comércio brasileiro como dia dos namorados, atrevo-me a dizer algo sobre o mais nobre dos sentimentos, o amor.
Quando olho à minha volta tenho uma certa tristeza pela dificuldade que a humanidade tem em amar, mas logo em seguida tento mudar isso. O amor é algo espetacular, algo que depende de uma extrema evolução. Não é possível amar pouco, baixinho, às vezes. Para amar temos que estar em um estágio mais avançado. Para amar é preciso ir além do horizonte, em outro mundo. O amor é a maior forma de respeito que podemos ter e, portanto, o sentimento mais difícil de todos, vulgarizado ao longo dos séculos por diversas "instituições".
Tenho certeza que apesar de todas as dificuldade em amar, neste mundo, precisamos continuar amando, precisamos amar a humanidade e, por isso, construir outro mundo, um mundo onde seja permitido amar. Precisamos ser felizes... precisamos da Revolução.
Lutemos pela felicidade, lutemos pelo amor, lutemos pela Revolução.
"...quero que continues ser um ser humano, pois isso é o essencial. E isso quer dizer: ser sólida, lúcida e alegre, apesar de tudo, pois gemer é coisa dos fracos." (Rosa Luxemburgo)
Amemos com força e alegria.
"O amor só é lindo, quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser."
(Mário Quintana)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Do amor (parte II)



Terminaram a pintura.
Agora somos milhões...
A classe.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Do amor

Pintaram um homenzinho em meu coração
Aguardo a presença de outros...
Que continuem a pintura...
Odeio a idéia de solidão.

domingo, 15 de maio de 2011

Eu odeio quem faz amor (Que me desculpem os românticos)

Outro dia estava ouvindo duas moças conversarem e fiquei pensando o quanto este romantismo exacerbado e atrasado complica as pessoas. As duas meninas falavam da vida como num conto de fadas, havia uma nuvem de amor perfeito e de depressivo logo em seguida, sobre elas. Estavam pelo menos uns 100 anos atrasadas. Foi um bom exemplo daquilo que eu abomino. Odeio as convenções, as mentiras repetidas, as pessoas que fazem amor... Fazer amor é como viver em outro mundo. Precisamos é fazer sexo, no sentido mais puro da palavra, isso nos deixa mais humanos. Parafraseando a Rita Lee (e infelizmente, o Arnaldo Jabor) acredito, sinceramente, que amor é um, sexo é dois. Quem faz amor vive sozinho, coisa mais atrasada. Mas essa é uma divergência pontual, para os que fazem amor, podemos continuar amigos.

sábado, 7 de maio de 2011

Marina Colasanti

Como eu disse, há coisas dela que eu gosto bastante. Então vou mostrar mais um texto que eu gosto.

Conto em letras garrafais

Todos os dias esvaziava uma garrafa, colocava dentro sua mensagem, e a entregava ao mar.
Nunca recebeu resposta.
Mas tornou-se alcoólatra.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Atualizando o Blog

Tem algumas coisas dela que eu gosto. Gostei desse texto. Meio lugar comum, mas gostei. Na verdade, eu queria escrever sobre o Nelson Rodrigues, mas ele é reacionário aos extremos, então, tenho que estar com paciência.


Eu sei, mas não devia
Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos
e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.

E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.
E aceitando os números aceita não acreditar nas negociações de paz,
aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
A lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.

E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição.

As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
A luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
A contaminação da água do mar.
A lenta morte dos rios.

Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães,
a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.

Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui,
um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.

Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo
e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se
da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta,
de tanto acostumar, se perde de si mesma.

sábado, 16 de abril de 2011

Um poema que gostei

A oferenda
                            
 Eu queria trazer-te uns versos muito lindos...
 Trago-te estas mãos vazias que vão tomando a forma do teu seio.                                                         
                                                             (Mario Quintana)

Talvez tenha gostado por já ter provado versos tão gostosos. 

terça-feira, 12 de abril de 2011

Enquanto isso


Enquanto não tivermos as forças para revolucionar façamos as coisas no detalhe. Não permitamos que o detalhe anterior nos tire a vitória. Hoje temos tempo, tudo deve estar perfeito. Amanhã estaremos prontos para viver os anos de hoje em minutos. 

terça-feira, 5 de abril de 2011

Das saudades e das vontades


Tenho saudade daquele dia; tenho saudade daquela música; tenho saudade daquela conversa; tenho saudade daquele filme;  tenho saudade daquele lugar; tenho saudade daquela pessoa.
Tenho vontade de um novo dia; tenho vontade de uma nova música; tenho vontade das novas conversas;  tenho vontade dos novos filmes; tenho vontade dos novos lugares; tenho vontade das novas pessoas, pois  a cada dia rejuvenescemos, somos outro.
Nada é mais gostoso do que ter boas lembranças e excelentes perspectivas, isso faz do presente o melhor momento da vida, o único que de fato temos.

domingo, 27 de março de 2011

Arnaldo Antunes

Tem muita gente que gosta dele, sou mais uma. Gosto bastante desta música.

sábado, 26 de março de 2011

Imagens



Tenho imagens guardadas que valem mais que um livro inteiro. Todavia, a melhor imagem do mundo está na janela da minha casa.  Não há nada de especial, mas é linda, tranquilizante (sinto falta do trema), amável.
Nossas imagens são páginas de nossas vidas que arrancamos do livro e guardamos a sete chaves. Às vezes eu empresto as chaves e mostro algumas, as comparto.



segunda-feira, 7 de março de 2011

Dia Internacional da Mulher


Somos muitas, somos fortes, somos belas, somos frágeis, somos difíceis, somos fáceis, mas acima de tudo somos mulheres. Somos um dia de sol ardente, uma chuva suave,  um frio gostoso...
 Parabéns a todas as mulheres que acima de tudo querem outro mundo, onde não seremos iguais aos homens, seremos, de fato, mulheres. Mundo em que compartilharemos nossas virtudes com todos os homens, com todas as crianças, com todos os idosos.  Mundo em que estaremos livres da opressão. Mundo, parafraseando Plekhanov, onde nossas necessidades sejam feitas consciência – a liberdade.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Falsa Democracia - Saramago


Adoro José Saramago. Minha admiração diz respeito, em especial, à literatura, mas certamente é importante quando pessoas de renome internacional ousam afrontar a ordem vigente.  De fato é lamentável que já não esteja entre nós. Veja o vídeo:

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Para meus poucos leitores

Eu não sei muito o que escrever aqui. Não posso escrever o que penso sobre o mundo, pois é um tanto agressivo. Não posso escrever o que penso das pessoas, não teria graça sem os nomes verdadeiros. Não posso escrever sobre o amor, também seria um pouco agressivo. Então, por ora, resolvi apenas mostrar um pouco daquilo que eu gosto. Quando eu tiver idéias melhores sobre o que colocar no blog... colocarei.

Aos vagabundos de plantão, algo romântico:

Poeminha Sentimental
Mário Quintana


O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Leituras

Tenho um livro de bolso onde Engels afirma que aprendeu mais sobre a França lendo Balzac do que com os historiadores e economistas da época.
Já li dois livros e meio do Gabriel Garcia Marques e assisti a um filme baseado em um romance do autor. Ainda não aprendi muito sobre a Colômbia, mas já tenho mais informações do que as básicas. Além de mulheres que são ótimas dançarinas... Shakira, do café, das Farc,  de Bogotá e do conhecido ex-presidente reacionário Uribe, a Colômbia tem muita história e muitas belezas.
A literatura é uma arte como poucas: quero conhecer a Colômbia.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

...

Hoje fiquei pensando em como é difícil amar, em como é difícil entender os amores.
Hoje fiquei pensando o quanto amamos.
Hoje fiquei pensando que sinto sua falta, mas que sou feliz...consigo amar.
Neruda que nos diga:

Saudade
Pablo Neruda
Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

Memórias –Lima


Lima é uma cidade grande com construções ostentosas, com uma pobreza visível e uma riqueza tão visível quanto.
Fiquei hospedada em um bairro chamado Miraflores, lindo, exuberante, feito para turista.
Fiz amigos, conheci lugares e compreendi um pouco o que os peruanos têm em comum conosco.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

[...]

Una hebra remoza
La flor


Una gota adherida al pétalo
Vuelca la flor en
Eso
Tórrido

(Luis León - poeta peruano)

Voltando...


Já estou em casa. Agora atualizarei o blog com a nostalgia e com o mundo agitado que vivemos.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Machu Picchu...

Machu Picchu realmente é uma das maravilhas do mundo.
Qualquer coisa que se diga será insuficiente. Os Incas tinham bom gosto.

Sábado (22/01/11) estive lá.

A beleza do lugar é indescritível.
Tem gente do mundo inteiro. Parece que se está subindo na torre de Babel, de tantos idiomas.

Nenhuma foto faz jus ao lugar.
Se Machu Picchu é a quarta maravilha do mundo, definitivamente quero conhecer todas, pois vale o esforço.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O Pecado

Hoje cometi um grande pecado, caso eu fosse cristã, com todo o respeito.
Havia acabado de chegar em Cuzco, uma linda cidade. Para quem conhece Ouro Preto, imagine, Ouro Preto maior e ainda mais bonita e olha que a cidade mineira não é qualquer coisa.

Bom, andava eu pelas ruas de Cuszco quando vi uma igreja enorme, em pedra. Entrei, mas quando entrei, o pecado, havia uma missa, eu como todos sabem, uma atéia convicta, adoro teatro e acho que as missas tem algo de teatral, sem nenhuma maldade. É tudo muito encenado,  muito disciplinado, cada qual no seu papel.

Entrei.  Um cenário lindo, ouro, a arquitetura maravilhosa. Fazia anos que não entrava em uma igreja e nunca tive o hábito. Para não ser desrespeitosa imitei uma velhinha. Fiz tudo que ela fez, inclusive tomar a  hóstia, o grande “pecado”, foi a primeira vez, a primeira vez a gente nunca esquece, pois não tenho comunhão. Um intensivo em Cuzco.  Apesar do pecado, foi tudo muito respeitoso.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Internet

Bom, estou em Puno. É uma cidade bonitinha com muita gente (turistas de toda parte do mundo), mas a internet é precária. Bom, é preciso registrar que o Peru é um país atrasado, tudo é um pouco precário e a pobreza é proporcional as belezas, imaginem. Nao consigo atualizar o blog e nem encontrar os acentos e a cedilha. Entao, por ora, nao vou atualizá-lo. Amanha vou para Cuzco. Acredito que será a melhor parte da viagem.
Caso alguem esteja lendo o meu blog, desculpe pela falta de pontuacao.
Outra coisa, as teclas sao apagadas. Eu ñ fiz curso de datilografia, estou toda enrolada. Para quem disse que meu blog é uma m..., sou obrigada a concordar. Vou evitar os palavroes, escritos eles ficam para a história.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Canyon de Colca

Amanhã estarei lá!

As Italianas

Em Paracas conheci duas jovens Italianas Ana e Maura. A primeira é cabeleireira e a outra é obstetra, acaba de concluir a faculdade. Duas moças educadas, bem humoradas que querem conhecer o mundo, não são filhinhas de papai, pelo contrário são trabalhadoras, guardaram dinheiro 3 anos para a viagem.  Foi bem legal conhecê-las, estamos viajando juntas. É divertido! Maura fala mais, canta o tempo todo “Brasil, meu Brasil Brasileiro” e continua, mas o restante só deus sabe o que ela fala, enrola alguma coisa. Ana é mais quieta, talvez porque não fala espanhol, mas é muito engraçado, pois às vezes ela me entende e a outra não. Sempre estão de bom humor. Estou me divertindo com elas.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Estou em Nazca

Começarei a coisa pelo meio e no caminho volto ao início.
Estou em uma pequena cidade que se chama Nazca. Está localizada ao sul do Peru, deserto. É uma cidade que existe há milhares de anos, pré-inca, imagine. É muito quente e muito seca. Adorei o lugar!
É uma cidade turística, pois há cemitérios pré-incas, ou seja dos Nazcas, mas  o mais incrível são as linhas de nazcas. Em torno da cidade, em todo o deserto, os Nazcas fizeram linhas no chao. Linhas que ao que parece são um calendário natural e outras são desenhos de animais. As linhas estão no chão, tem de 2 a 5cm de altura e não apagam,  vimos algumas. É uma coisa inexplicável. Parece que alguém fez umas estradinhas, o detalhe é que são gigantes, retas e não apagam com nada, além do que estão no deserto e algumas em montanhas, outro "detalhe" é que tem mais de dois mil anos intactas, ou seja, a estradinha é forte.

Agora tenho um blog!

Estou no Peru faz quase 10 dias, em virtude deste fato o Tiago fez um blog para mim. Tentarei atualizá-lo, mas quem me conhece sabe que não gosto muito da internet, todavia tentarei.