quarta-feira, 20 de julho de 2011

Linda

A beleza depende de quem vê, reza a lenda. Tenho dúvida sobre esta afirmação. A beleza depende da época que vivemos, depende dos padrões estabelecidos, depende dos mitos estabelecidos.
Tive uma amiga feia. Quando digo feia refiro-me àquela feiúra universal, àquela feiúra consenso. Sim, feio que não é consenso não é feio.
Voltemos à amiga. Ela era magérrima, com sardas, espinhas, um ar de Macabéia,  a personagem de Clarice Lispector. Coitada. Para completar, seu nome era Lindaura, apelido, Linda, o acaso apronta algumas.
Linda era muito simpática, tinha aquela coisa bonita do nome, também na forma de ser.  Vivia sorrindo, adorava a vida e parecia sempre feliz. 
Um dia nos disse que iria participar de um concurso de beleza. Estávamos em uma roda de amigos, nosso susto foi tão grande que não sabíamos o que fazer para persuadi-la da idéia. Cada qual disse uma coisa. O primeiro ressaltou a futilidade da questão, o outro a questão política do estabelecimento de um padrão social. Eu preferi calar, na pura idéia de ser poupada de tamanho constrangimento. Mas, Macabéia, digo, Linda, era mesmo uma sujeita diferente, pensou um pouco e mudou de idéia, convenceu-se da futilidade da ação.
Lindaura morreu ontem, casada, sem nenhum filho, aos oitenta anos, Linda.

4 comentários:

Fran Hellmann disse...

Que lindo...

criticadacritica disse...

É verdade? Meu! Com quantos anos você conheceu ela?

Johannes Halter disse...

Os feios também amam.

Carvalho disse...

Se quiseres, dou um jeito de bloquear os comentários.

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