quinta-feira, 28 de julho de 2011

Para hoje e sempre

Essa frase combina com meu dia, às vezes tenho a impressão de que combina com minha vida:


" De todas as coisas seguras, a mais segura é a dúvida. " 
( Bertold Brecht ) 

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Linda

A beleza depende de quem vê, reza a lenda. Tenho dúvida sobre esta afirmação. A beleza depende da época que vivemos, depende dos padrões estabelecidos, depende dos mitos estabelecidos.
Tive uma amiga feia. Quando digo feia refiro-me àquela feiúra universal, àquela feiúra consenso. Sim, feio que não é consenso não é feio.
Voltemos à amiga. Ela era magérrima, com sardas, espinhas, um ar de Macabéia,  a personagem de Clarice Lispector. Coitada. Para completar, seu nome era Lindaura, apelido, Linda, o acaso apronta algumas.
Linda era muito simpática, tinha aquela coisa bonita do nome, também na forma de ser.  Vivia sorrindo, adorava a vida e parecia sempre feliz. 
Um dia nos disse que iria participar de um concurso de beleza. Estávamos em uma roda de amigos, nosso susto foi tão grande que não sabíamos o que fazer para persuadi-la da idéia. Cada qual disse uma coisa. O primeiro ressaltou a futilidade da questão, o outro a questão política do estabelecimento de um padrão social. Eu preferi calar, na pura idéia de ser poupada de tamanho constrangimento. Mas, Macabéia, digo, Linda, era mesmo uma sujeita diferente, pensou um pouco e mudou de idéia, convenceu-se da futilidade da ação.
Lindaura morreu ontem, casada, sem nenhum filho, aos oitenta anos, Linda.

sábado, 16 de julho de 2011

35 anos


Que venham os próximos trinta e cinco...
Somarei tudo e acrescentaria o triplo..
Amarei três vezes mais e serei cinco vezes mais tolerante...
Não tirarei nenhum segundo, porque "eu tenho o amor maior do mundo", a vida...
"Como é grande o meu amor por você".


quarta-feira, 13 de julho de 2011

Quase 35 anos e uma tremenda identificação com Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

Há sem dúvida quem ame o infinito, 
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
 
Há sem dúvida quem não queira nada
 
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
 
Porque eu amo infinitamente o finito,
 
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
 
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
 
Ou até se não puder ser...

Álvaro de Campos

Tenho total acordo com os quatro últimos versos. 

terça-feira, 12 de julho de 2011

Discurso de Deus a Eva - Millôr Fernandes


"... Eva, de repente, descobrindo uma bela cascata, resolveu tomar um banho de rio.  A criação inteira veio então espiar aquela coisa linda que ninguém conhecia.  E quando Eva saiu do banho, toda molhada, naquele mundo inaugural, naquela manhã primeval, estava realmente tão maravilhosa que os anjos, arcanjos e querubins, ao verem a primeira mulher nua sobre a Terra, não se contiveram, começaram a bater palmas e a gritar, entusiasmados: "O AUTOR! O AUTOR! O AUTOR!".

"P.S. - Este discurso do Todo-Poderoso está sendo divulgado pela primeira vez em todos os tempos, aqui neste livro.  Nunca foi publicado antes, nem mesmo pelo seu órgão oficial, A BÍBLIA."

"Minha cara,

eu te criei porque o mundo estava meio vazio, e o homem, solitário. O Paraíso era perfeito e, portanto, sem futuro. As árvores, ninguém para criticá-las; os jardins, ninguém para modificá-los; as cobras, ninguém para ouvi-las. Foi por isso que eu te fiz. Ele nem percebeu e custará os séculos para percebê-lo. É lento, o homenzinho. Mas, hás de compreender, foi a primeira criatura humana que fiz em toda a minha vida. Tive que usar argila, material precário, embora maleável. Já em ti usei a cartilagem de Adão, matéria mais difícil de trabalhar, mais teimosa, porém mais nobre. Caprichei em tuas cordas vocais, poderás falar mais, e mais suavemente. Teu corpo é mais bem acabado, mais liso, mais redondo, mais móvel, e nele coloquei alguns detalhes que, penso, vão fazer muito sucesso pelos tempos a fora. Olha Adão enquanto dorme; é teu. Ele pensara que és dele. Tu o dominarás sempre. Como escrava, como mãe, como mulher, concubina, vizinha, mulher do vizinho. Os deuses, meus descendentes; os profetas, meus public-relations, os legisladores, meus advogados; proibir-te-ão como luxúria, como adultério, como crime, e até como atentado ao pudor! Mas eles próprios não resistirão e chorarão como santos depois de pecarem contigo; como hereges, depois de, nos teus braços, negarem as próprias crenças; como traidores, depois de modificarem a Lei para servir-te. E tu, só de meneios, viverás.

Nasces sábia, na certeza de todos os teus recursos, enquanto o Homem, rude e primário, terá que se esforçar a vida inteira para adquirir um pouco de bens que depositará humildemente no teu leito. Vai! Quando perguntei a ele se queria uma Mulher, e lhe expliquei que era um prazer acima de todos os outros, ele perguntou se era um banho de rio ainda melhor. Eu ri. O homem e um simplório. Ou um cínico. Ainda não o entendi bem, eu que o fiz, imagina agora os seus semelhantes.

Olha, ele acorda. Vai. Dá-me um beijo e vai. Hmmmm, eu não pensava que fosse tão bom. Hmmmm, ótimol Vai, vai! Não é a mim que você deve tentar, menina! Vai, ele acorda. Vem vindo para cá. Olha a cara de espanto que faz. Sorri! Ah, eu vou me divertir muito nestes próximos séculos!"

Texto extraído do livro
 "Esta é a verdadeira história do Paraíso", Livraria Francisco Alves Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. s/nº.

domingo, 10 de julho de 2011

Machado de Assis outra vez

" Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes."

São tantas revisões no texto que às vezes cansa, dói. Hoje é um dia que estou com o coração apertado pelo sofrimento alheio, queria ter um remédio para a dor da minha amiga. O tempo, o tempo... o sol, a lua, a juventude, a vida...



sexta-feira, 8 de julho de 2011

Dois poemas de José Paulo Paes (falarei sobre ele com tempo)

Hino ao sono

Sem a pequena morte 
de toda noite
como sobreviver à vida
de cada dia




DECLARAÇÃO DE BENS


meu deus
minha pátria
minha família

minha casa
meu clube
meu carro

minha mulher
minha escova de dentes

minha vida
meu câncer
meus vermes



quarta-feira, 6 de julho de 2011

Machado de Assis e a traça

A traça comeu uma parte de "Memórias Póstumas".  Agora vou colocar capa dura no livro. Os vermes do livro estão se movendo. Adorei! Estou relendo o livro.
"Ao verme que primeiro roeu as finas carnes do meu cadáver dedico como saudosas lembranças  estas MEMÓRIAS PÓSTUMAS" 

terça-feira, 5 de julho de 2011

Da fuga

Estou lendo um livro com  130 crônicas do Nelson Rodrigues, o que dá um total de 693 páginas.  Resolvi datar cada uma que leio. Odeio quando faço isso. A primeira datei em 14 de fevereiro; a última em 23 de maio. Atualmente está uma guerra dentro de mim. Minha mente é habitada por uma infinidade de personagens. Quero  fugir de algumas crônicas. Persuadir as personagens em desistir dessas datas, pular as crônicas que eu não gostar do título (título é tudo, como diria minha amiga Luci, a respeito dos dentes das pessoas) e chegar ao fim do livro. Ao que tudo indica é uma causa perdida. As personagens se reunirão e a votação está dada: centenas contra um. Odeio essa gente teimosa dentro de mim.