domingo, 27 de novembro de 2011

Memória


Em um dia ensolarado, lá por volta de 1967, véspera de  Natal, mamãe pediu para que eu fosse na venda. A venda era longe, como tudo no sítio, mas a lonjura era a segunda parte mais divertida. Sim, a segunda. É sempre bom ver passarinho e moça bonita, o caminho da venda era assim. A coisa mais divertida era o campinho. Era de areia do sítio, não vou nem tentar explicar o que é areia do sítio, vocês não vão entender se não são do sítio e, se são, não preciso explicar. Voltemos ao campinho. Era de areia do sítio, tinha trave de madeira e os meus mais nobres amigos de toda a vida, sim, amigo de campinho é coisa séria. Aconteceu que na volta da venda meus nobres amigos me chamaram para jogar, proposta irrecusável, convenhamos. Joguei uns 50 minutos, ou mais. O tempo é um negócio desnecessário no campinho, aliás, no campinho não tem primeiro e segundo tempo, o tempo é um só e olha que é bastante, pra toda vida eu diria.  As mães nunca entenderão isso. Bom, como vocês devem imaginar, quando eu voltei tinha escurecido e mamãe esperava com a vara.  Apanhei. Meu Natal foi inesquecível, 12 a 7 para os sem camisa. Eu estava nesse, é claro. Quando temos boas memórias estamos bem vivos.  Ser humano é feito de memórias, sem elas não temos razão de ser. 

1 comentários:

Fran Hellmann disse...

"Ser humano é feito de memórias, sem elas não temos razão de ser."

Linda.

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