quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Síndrome da balinha de menta

Sempre tive dificuldades em entender o comportamento humano.  Desde muito cedo tive a preocupação em cuidar do outro, motivo simples, gosto de gente. Todavia, não consigo entender ninguém.
Imaginava eu, que na velhice isso iria melhorar, que eu iria entender as pessoas. Mas pelo visto nem Matusalém entendeu (eu tive que fazer uma consulta técnica  para saber quem foi o homem mais velho da Bíblia, deve ser por isso que eu não entendo as pessoas).
Domingo eu fui ao mercado com meus últimos trinta reais. Chovia, mas eu precisava comprar umas coisinhas.  Sou professora aposentada, cada dia que passa meu salário definha, não devo ser a única.  Gastei no mercado meus trinta reais por completo. Essa é uma proeza que só os meticulosos conseguem. Fui somando tudo e enquanto não deu trinta não parei. Não demorou muito.
Comprei “tudo” que eu precisava. Mas a velhice é coisa feia, a gente começa a esquecer as coisas. Tem lá suas compensações, nem lembro mais que cara tinha minha cunhada. Além do esquecimento, vamos tendo umas coisas no corpo, dói aqui, dói ali.  Eu por exemplo, sou forte, mas tenho uma secura na garganta que só Deus pra curar, parece que vou morrer disso. Talvez seja herança da minha profissão.
Para passar a secura tenho comigo balinhas de menta.  Neste fatídico domingo as balinhas acabaram. Eu esqueci de incluir nos últimos trintões.
Quando eu saía do mercado tive uma “crise da garganta seca”, coisa horrível de ver. Vocês podem achar engraçado, mas é coisa feia. Se um dia vocês envelhecerem, talvez me entendam. As crises são fortes e eu preciso de balinhas. Talvez o nome mais conveniente para minha doença fosse “síndrome da balinha de menta”.  Bom, não importa, como eu havia dito estava saindo do mercado quando tive a crise. Resolvi passar na revistaria e  pedir uma balinha de menta para a moça. Outro dia eu havia visto a cesta de balinhas na revistaria. Entrei e fui logo pedindo: podes me dar uma balinha de menta? Ela respondeu:  cinco centavos. Eu disse: não, quero uma de graça. Ela com cara de poucos amigos tornou a repetir: cinco centavos. Eu desconsertada, disse, obrigada. Uma moça que ouvia a conversa perguntou: o que a senhora quer? Queria uma balinha. Ela de súbito entregou alguns centavos à atendente, pegou as balinhas e me entregou. Eu, sem muito entender, disse que só queria uma. Ela num gesto com as mãos disse para eu ficar com todas e saiu.
A minha doadora de balinhas de menta deve ter imaginado que eu tinha uma doença mental  (não de menta)  e não na garganta, ou talvez ela tenha a “síndrome da balinha de menta”, dizem que tem doença de velho que dá em jovem. Sei lá, o fato é que tenho balinhas até o dia do pagamento. 

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