quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Joana disse a Bia que papai voltaria na primavera. Era apenas uma ideia vaga que ela acreditava que seria esquecida em poucos dias, a menina tinha apenas quatro anos. Joana não sabia, porém, que Bia tinha um grande amigo, o senhor João, vizinho. Todos os dias Bia ia até o portão e conversava com seu João, aposentado. Conversas longas e da maior importância, ainda que muitos não respeitassem. Na conversa ela sempre lembrava de perguntar quanto faltava para a primavera.  Seu João no início dizia que faltava muito, depois falta pouco e, por fim, dizia que a primavera estava chegando. Nas conversas, seu João contava das belezas da primavera e da completa efemeridade de tamanha formosura, explicava o nascimento, a vida e a morte. Explicava a diferença das estações e as mudanças que ocorriam em cada retorno da primavera. Em 21 de setembro seu João acordou feliz, foi ao portão e chamou Bia. Olhou para pequena e com um belo sorriso comunicou: - Amanhã começa a primavera! Bia saiu aos pulos para contar para a mãe que no outro dia papai haveria de chegar e que uma festa deveria ser preparada. Aos prantos Joana explicou à pequena menina que o pai havia morrido. A menina, num requinte próprio da inocência, olhou para mãe, suspirou e disse: - Tudo bem, mas podemos fazer uma festa para primavera? Daquele dia em diante Joana entendeu que Bia talvez um dia tivesse as mesmas tristezas que ela, mas hoje Bia era apenas uma criança, que já é uma vida inteira. 

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