Joana disse a Bia que papai voltaria na primavera. Era
apenas uma ideia vaga que ela acreditava que seria esquecida em poucos dias, a
menina tinha apenas quatro anos. Joana não sabia, porém, que Bia tinha um grande
amigo, o senhor João, vizinho. Todos os dias Bia ia até o portão e conversava
com seu João, aposentado. Conversas longas e da maior importância, ainda que
muitos não respeitassem. Na conversa ela sempre lembrava de perguntar quanto
faltava para a primavera. Seu João no
início dizia que faltava muito, depois falta pouco e, por fim, dizia que a
primavera estava chegando. Nas conversas, seu João contava das belezas da
primavera e da completa efemeridade de tamanha formosura, explicava o
nascimento, a vida e a morte. Explicava a diferença das estações e as mudanças que ocorriam em cada retorno da primavera. Em 21 de setembro seu João acordou feliz, foi ao
portão e chamou Bia. Olhou para pequena e com um belo sorriso comunicou: - Amanhã
começa a primavera! Bia saiu aos pulos para contar para a mãe que no outro dia
papai haveria de chegar e que uma festa deveria ser preparada. Aos prantos
Joana explicou à pequena menina que o pai havia morrido. A menina, num requinte
próprio da inocência, olhou para mãe, suspirou e disse: - Tudo bem, mas podemos
fazer uma festa para primavera? Daquele dia em diante Joana entendeu que Bia talvez um dia tivesse as mesmas tristezas que ela, mas hoje Bia era apenas
uma criança, que já é uma vida inteira.
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
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